10 fevereiro 2010

Resignação

Vou deixar de ver as luzes da cidade, de percorrer estes caminhos à chuva e ao sol, à noite e de dia, com e sem vento.
O cheiro dos cedros húmidos vai deixar de fazer parte da minha caminhada do dia-a-dia.
Vou deixar de olhar para as janelas de um edifício com tanta e tão pouca vida, onde outrora muitas foram as sinapses que voavam pelo meu espírito.
Vou deixar de dar as saborosas gargalhadas junto daqueles que me mostraram, nas suas vicissitudes, a plenitude de comunhão do trabalho em equipa.
Vou deixar de me sentir cansada à 6ª feira pela produtividade dos meus dias semanais; de chegar ao fim do mês e me sentir recompensada pelo trabalho desenvolvido!
Vou deixar de...
E só agora caio efectivamente em mim, ao deixar que os olhos se me encham de água!
Foram várias as viagens percorridas, várias as memórias que evoquei, várias as sensações que de mim se apoderam.
Mas... é certo este meu fim. Certo. Concreto e sabido. Tanto ou tão pouco que nunca me atormentou, senão agora, senão há 3 dias quando se me invadiu a dúvida do futuro.
Questiono?
Sim. Claro que sim!
Não terei eu outras chances que não a redução àquela dolorosa colmeia de abelhas onde o mel que se produz não é de consumo imediato, nem tão pouco directo, nem tão pouco produzido pelas mentes perversas que povoam aquele ninho?
Resigno-me, pois é essa a minha condição por ora. Não há senão esta forma de me encarar, de encarar esta faceta da minha vida.
Fecha-se mais um capítulo neste livro. Vira-se uma página, depois de pousar a caneta já cansada de produzir.
Há vários objectivos para este ano. Talvez seja tempo de os pôr em andamento. Alguns possíveis (parece-me), outros nem tanto.
E, de repente, apetecia-me ver o mar. Encher os pulmões de ar e respirar aquela brisa salgada e fresca, capaz de fazer movimentar as células mais preguiçosas do meu teimoso metabolismo.
E resigno-me. Resigno-me com a ideia de que o amanhã será, pelo menos, tão bom como o hoje, simplesmente porque amo e sou amada e apenas a isso devo dar importância. Apenas a isso devo atribuir mérito e certeza.
E vendo esta noite entrar pela janela, resigno-me a isso mesmo: à noite que me traz ao meu meu amor.

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