17 março 2009

17 de Março de 2009

Hoje há que usar uma flor branca ao peito.



Todos aqueles que se incluem no grupo dos técnicos de Serviço Social, devem usar um flor branca - esta era a mensagem que circulava por aí.

Eu usei! E expliquei a quem comentou a minha flor o motivo da sua existência.

Também hoje havia uma conferência/congresso, ao qual lamentavelmente não pude comparecer.
"o que é afinal ser assistente social?" era o nome da conferência.
E direi eu, alguém que ama (ou deveria) amar aquilo que faz, que se entrega de corpo e alma aos que precisam, que não se importa de dar a cara pelos outros, sem pensar que pode magoar-se!

Mas, em oposição, questiono-me eu?! De que serve ser-se assisente social nestas minhas condições actuais?! Dramático não é, porque ao invés de tantos colegas, não estou no desemprego, mas...

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos

(Alexandre O'neill)

E reforço eu a ideia!
Havemos quase todos de chegar a ratos! Porque é nessa perspectiva que se vive hoje. Na de se ser sempre melhor que os outros a qualquer preço, independentemente dos valores que se devem (ou deveriam) preconizar como valores morais e éticos a pôr em prática.

Mais, é tudo uma cambada de oportunistas e de "salve-se quem puder" numa rataria que trezanda a podridão!

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